terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

- CHACOTA - >>> existe mesmo????

Ao contrário de outros ritmos como o Rock, Jazz ou até mesmo a música clássica, na música eletrônica criou-se uma espécie de repúdio à criação e consagração de “clássicos”. Percebe-se nesse meio, que pouquíssimas músicas conseguem se consagrar como Hits e depois não caiem no jargão de obsoletas, fora de moda, easy listening ou simples e grosseiramente “chacota”. Esse termo muito usado pelo pessoal que freqüenta raves, e que no dicionário esta descrito como zombaria, está associado a músicas de apelo mais comercial, tocada muitas vezes e que vira uma opção fácil para o dj que quer levantar e agitar a pista. Mas afinal que tipo de zombaria é essa?? Seria o Dj que esta zombando dos ouvidos alheios com aquela música?? Seria a música em si uma baboseira?? Ou seria na verdade uma crítica vazia à uma grande produção que com sucesso conquistou o gosto da maioria??? O Psytrance criou uma certa aura mística em torno de si, tornando-se uma entidade além da música que de fato é, e com isso criaram-se protetores e guardiões do seu “segredo”, agora ainda mais empenhados a não deixar este espalhar-se aos simples mortais. Agora que o Psy esta deixando de pertencer ao underground e ascendendo ao status Pop, os “guardiões” criaram mecanismos de defesa para segregarem-se das pessoas que caíram de “para-quedas” na cena. O termo “Chacota” é usado como um dos mecanismos com esse fim, pois ele mostra um certo eruditismo por parte dos guardiões que entendem e conhecem artistas além dos mais famosos, e usam o termo a vontade, e com isso se julgam ter mais direito de estarem dentro da cena do que o restante. Dentro de uma rave é feio falar que você gosta de músicas como “ I wish” e “Cities of future” grandes hits do Infected Mushroom, sem falar de músicas com guitarra, como as do Skazi – que levantam a pista assim que começam a tocar, e por isso são chacotas!!, com o perigo de você ser taxado como um “para-quedista” ou uma pessoa que esta ali simplesmente por modismo e isso de fato chateia as pessoas que gostam de raves, pois é ruim ser tratado como um leigo, e ser discriminado por isso, no que você mais gosta. Mas os “guardiões” se esquecem que um dia já foram para-quedistas e que já gostaram da chacota (as vezes até tocando, no caso daqueles que tem dom para isso)!! Ainda pior é o fato dos mais novos (até um ano e meio de raves), aterrorizados com essa assombração, são obrigados a se fingir de entendidos e rotular, junto com os guardiões, músicas, djs, produtores e pessoas de “chacota”, “chacoteiro” e “paraquedistas” ou “perdidos” (mas em suas mentes curtem e acompanham a letra “i want to know you... better than i know myself... ... ... ... i want to feel the end...” E se continuarmos a concordar com isso, o fim chegará mesmo... Isso é de assustar, e está se espalhando como um vírus, e está deixando toda a cena psytrance doente. Estes não vão mais para as festas com o intuito e espírito de se divertir (objetivo de ir numa festa, e pagar por isso), mas sim de analisá-la fria e meticulosamente sob os aspectos artísticos e organizacionais, para poder ficar comentando depois. Skazi é apontado como o maior dos chacoteiros por grande parte dos entendidos, pois possui um estilo que mistura o Heavy metal com o Psytrance, mistura que forma um mosaico musical muito fácil de digerir para grande parte das pessoas, e isso a torna chacota. Infected Mushroom, que até um ou dois anos atrás era do gosto de todos, também começa a ser chacota para os entendidos... Vamos transpor esse quadro para o Rock. Podemos dizer que os maiores chacoteiros do rock são os Beatles, pois grande parte de suas músicas são repertório de bandas cover e seus hits estão sendo tocados à exaustão a mais de 40 anos. Com os Beatles (que já não são mais hits, e sim clássicos) o rock cresceu, se popularizou, inovou e evoluiu e a evolução é um processo importante para a permanência, e sem a evolução, o estilo acaba cansando e pende para a decadência. Não há maior chacoteiro do que Vivaldi ou Bethoveen, que mesmo depois de mais de 200 anos de suas mortes, suas músicas e suítes ainda são motivos para atrair pessoas a uma sala de espetáculos. Então é importante que artistas como Infected Mushroom, Astrix, GMS, Skazi, entre outros criem as “chacotas” (termo que a esta altura, o leitor já sabe que não concordamos o porque deste termo existir) para que esse ritmo evolua e continue sempre a nos proporcionar o prazer que ele dá. É preciso ressaltar também, que a “chacota” é um ponto positivo para a cena psytrance, pois com a ajuda dela, a cena tem a chance de se estruturar melhor, os artistas podem começar a sonhar em viver do que gostam de fazer, e assim produzem novas músicas, e assim a cena cresce e se recicla, e assim... e assim.. e assim... É perfeitamente possível que o underground pode correr em paralelo com o mainstream, mas sempre alguma coisa tentou se manter no underground houve fracasso. Uma hora as pessoas enxergam que é preciso ganhar dinheiro viver a vida e acabam desistindo de fazer algo que lhes tomaria muito tempo e que não lhe da rendimento. Nem tudo é festa nesse mundo, e para que haja festa, muitos tem que TRABALHAR. O caso ocorrido no último Sábado, dia 12 de março, durante o Big Brother Brasil onde o dj Rica Amaral tocou para o pessoal confinado na casa ilustra esse caso. Em diversas comunidades do Orkut e fóruns de raves e psytrance (inclusive neste site), Rica Amaral foi “apedrejado” por diversas pessoas (mas também apoiado por outras tantas), dizendo que ele trouxe a Rave para o comercial, que ele esta desestruturando a cena, que esse é o começo do fim da cena Trance, que ele é “chacoteiro”, e em comunidades sem controle houve apelo até para xingamentos, não merecendo espaço nessa matéria. Porém se não fosse o “chacoteiro” Rica Amaral, provavelmente não estaríamos vivenciando com intensidade essa cena (onde hoje pode-se escolher onde quer ir, optando por festivais, raves ou mesmo pvts, com variedade de artistas e qualidade de produção de eventos), pois pode-se dizer que o conceito de rave trance, foi trazido por ele ao Brasil, junto com o Dj Feio. Se a XXXperience é hoje a mais popular rave do Brasil, é porque ela foi a primeira explorar organizadamente esse conceito e sem isso hoje provavelmente estariam acontecendo apenas privates freqüentadas por poucas pessoas. Que mal há em transformar algo que você gosta e se diverte em trabalho organizado que diverte o público??? O gosto pessoal de cada um é direito sagrado e deve ser respeitado, sendo assim cada um tem o direito de achar uma música ruim ou ótima (sem ser discriminado por isso) e tem o direito de repudiar o que é comercial, mas o radicalismo com que algumas pessoas chegam a tratar do assunto é de assustar. Portanto, caro leitor, se você gosta da chacota, escute, dance se divirta, pois afinal as músicas e as festas estão ali para nos servir e não para servirmos a elas.



Como dizia na pulseira da rave PSYDE do ano passado, “Dance como se ninguém estivesse te olhando” ou nesse caso, “Escute como se ninguém estivesse ouvindo" !!!!



FONTE: http://www.baladaplanet.com.br

3 comentários:

Raphael M disse...

Perfeito!!! Não poderia ter definido melhor!!Que se f... os rótulos!!!! O importante é sentir a música e se perder na dança!!! O resto não importa.

Raphael M disse...

Agora que vi que a postagem é de 2008!!! E por incrível que pareça, mesmo 12 anos depois muita gente não aprendeu.

Jerlany Ferreira disse...

Gostei da explicação